sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As Dores e Delícias de Dirigir em Brasília

De hoje em diante está decidido: meu novo horário de trabalho é das 17h da tarde até às 2h da manhã. E tenho dito!
Créditos das Fotos: Ricardo Boeira
Certa feita, em um período de férias recente, precisei me deslocar de minha casa para o local onde trabalho no horário contrário ao do expediente.
Iria me encontrar com amigas que não estavam em férias para um happy hour. Era um fim de tarde de terça-feira. Saí de casa por volta de 17h30 para encontrar as minhas amigas no estacionamento do trabalho por volta das 19h, ou seja, quando o expediente estivesse terminando.
Durante o trajeto fui percebendo uma facilidade, certa fluidez no trânsito à qual eu estava desacostumada.  Fui notando que conseguia manter uma velocidade constante e não precisava ficar trocando a marcha para fazer reduções a cada minuto. Nem mesmo meus pés tinham de ficar por todo o tempo pressionando os pedais de freio, aceleração ou embreagem.
Rapidamente alcançara a avenida de saída da cidade, não sem experimentar uma sensação de liberdade e contentamento. Que diferença guiar com tanta espontaneidade e tranquilidade!
Semelhante à sensação experimentada quando volto para casa às sextas-feiras de madrugadinha e posso curtir a sensação de exclusividade, a liberdade e a possibilidade de mudar de faixa a hora em que bem entender (e, não menos importante: sinalizar se eu quiser; contrariando o que me ensinou meu instrutor na autoescola!).
As largas avenidas de Brasília são deliciosas e convidativas na madrugada. As luzes, a vegetação e até mesmo os edifícios adquirem um encanto todo especial. Poder contemplar isso é, de fato, uma experiência singular. 
Quem passa dirigindo à noite pelas pontes JK ou Costa e Silva, quem circula pelas adjacências do Setor de Clubes Norte ou Sul, margeando as águas do lago Paranoá e já pôde observar o reflexo ora da lua, ora das estrelas, ou simplesmente das luzes da cidade sobre as águas é um ser privilegiado!
Em contrapartida, enquanto avançava na minha trajetória ao encontro das amigas pude notar na faixa em sentido contrário exatamente o oposto: carros e mais carros enfileirados, os faróis acesos, o ruído das freadas, o som das buzinas e o tráfego fluindo muito lentamente. 
Fiquei do lado oposto lembrando das inúmeras vezes em que ficara nas mesmas condições.
Quantas vezes me atrasara para chegar ao trabalho, parando a cada dez minutos, a interminável fila de carros, os ponteiros do relógio girando sem contenção, as surpresas ao descobrir se houve ou não um acidente e os pés doloridos de tanto repetir os mesmos movimentos.
O mais desalentador é o fato de que esse tipo de evento (trânsito congestionado) tem uma tendência a se tornar cada vez mais comum, especialmente em Brasília, cujo crescimento desordenado decorrente da especulação imobiliária, do inchaço habitacional causado pela falta de políticas habitacionais decentes e da atraente propaganda da cidade como promessa de vida boa e farta veiculada por políticos descompromissados com o bem-estar da população. Por aqui o trânsito tem se tornado sinônimo de transtorno.
Está na hora de se começar a pensar em soluções práticas e factíveis para o que irá se tornar um problema sério e que atingirá a população brasiliense como um todo.
De minha parte, desejo continuar tendo a oportunidade de curtir e apreciar o visual da cidade enquanto dirijo.
Nem que para isso seja necessário mudar o horário de trabalho!
Por essas e outras razões volto a afirmar: a partir de hoje meu novo horário de trabalho é das 17h às 2h da manhã, pois assim poderei contemplar as belezas da cidade sem sentir os pés cansados ao final da viagem.
by M@riBlue