terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Medo



O medo é um dos companheiros da mulher. Medo do desconhecido, medo da perda, medo da dor, medo do fracasso, medo da desilusão. Medo da chuva, do fogo, do desejo, medo da paixão.


Há medos que são inexplicáveis. Há medos esdrúxulos. E há medos engraçados.

Naquela noite Ana estava em casa sozinha. Ela simplesmente 'a-do-ra-va' ficar em casa sozinha! Era o momento em que ela podia aproveitar ao máximo a liberdade poucas vezes sentida de ter a casa toda só para si. Ah, outra coisa que Ana 'a-do-ra-va' fazer era ler.

Era, de fato, uma dessas raríssimas ocasiões. E nessa ocasião Ana viveu uma experiência um tanto desastrosa...

Bem, nessa noite ela estava em seu quarto, lendo um livro qualquer quando começou a ouvir um barulhinho familiar.

Sabe aquele barulhinho que a gente escuta quando mexe em um saco plástico? Esse barulhinho tem um nome que Ana sempre achou fabuloso: 'farfalhar'.

Ana estava lendo seu livro quando ouviu certo 'farfalhar'. O barulho parecia distante. Parou de ler o livro e ficou escutando. Alguns segundos depois e ouviu outra vez. Agora o som parecia estar mais próximo.

Alguma coisa avisou ao cérebro de Ana que aquele ruído era algo bem familiar. E algo muito desagradável também. De repente, seu coração começou a bater de forma acelerada. Suas mãos começaram a transpirar e todo o seu corpo se preparava para travar mais uma batalha.

Da última vez começara exatamente da mesma maneira.

O farfalhar estava mais alto e mais intenso. Então, além do ruído e de todas as outras sensações, Ana começou a sentir aquele cheiro estranho. Era um cheiro de coisa velha; cheiro de escombros; um cheiro que mistura poeira e umidade. Era o cheiro dela. Só poderia ser uma delas!

Ana não temia ladrões, nem assombrações. Nunca teve medo de cachorro. Era capaz de assistir mais de uma vez o filme ‘O exorcista’. Ana até preferia ficar em casa sozinha, mas, naquela noite...

Naquele momento era simplesmente aquele cheiro estranho, o coração faltando pouco sair pela boca, as mãos transpirando e a convicção de que seu cérebro não poderia estar enganado. A mensagem era claríssima: Alerta! Fuga!

O ruído vinha da porta de seu quarto que estava apenas encostada. Mas ela não podia sair por ali. Só havia uma janela que dava para a rua. As grades da janela eram uma barreira significativa. Ana não sabia o que fazer. Estava em pânico! Precisava sair dali. A mensagem era suficientemente clara!

Como não tinha para onde fugir, Ana jogou longe o livro, ficou de pé sobre a cama, enrolou-se no edredom e colou o corpo (literalmente) no canto da parede. Congelou os movimentos. Ficou imóvel. E assim ficou por longos quarenta minutos até que sua mãe chegou da rua.

A mãe de Ana entrou em casa normalmente e, ao abrir a porta, encontrou uma linda borboleta tentando desesperadamente voar para fora.



Momentos depois, ao entrar no quarto de sua filha não acreditou que aquilo pudesse ser possível: Ana estava de pé sobre a cama, imobilizada pelo medo e com os olhos arregalados. Então a mãe compreendeu tudo: sua filha havia pensado que a inofensiva e bela borboleta fosse uma asquerosa e ameaçadora barata!

O medo é um recurso da mente que avisa e protege. Muito natural no ser humano, é algumas vezes exacerbado em algumas mulheres: há o medo de ladrão, medo de fantasma; medo do abandono, medo da humilhação, medo da perda de um grande amor, medo da solidão... ou simplesmente medo.

By MariBlue

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mistério


Já dizia o poeta que há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Quantos de nós já tentou responder a questionamentos essenciais tais como ‘quem sou eu?’ ou ‘Deus existe?’, quantos já nos deparamos com situações com as quais jamais sonháramos?
A mulher é um ser cheio de perguntas. E também pleno de respostas. Ela exercita a capacidade de questionar, arguir e opinar.
 E o faz todo o tempo, todos os dias, repetida e frequentemente. Por esse motivo, a mulher é a maior e mais abundante fonte de mistérios que pode existir sobre a face da terra.
Seu nome era Vitória.
Ela trabalhava em uma firma terceirizada prestadora de serviços para o Ministério das Relações Exteriores, localizado no centro do Poder em Brasília. Seus instrumentos de trabalho: um carrinho de lixo, uma vassoura e uma pá.
Era possível ouvi-la todas as manhãs no estacionamento dos Anexos. Solava em tons agudos e graves, alternando entre ambos, mas sempre muito afinada.
Era uma pessoa muito simplória, mas bastante articulada. Sua aparência transmitia seguramente a imagem de uma pessoa de origem humilde, de certa forma despreocupada em relação à aparência, talvez por não ter muito tempo para tais cuidados.
Vitória era, entretanto, uma sumidade em conhecimentos relacionados à música. Além disso, falava com certa fluência em inglês, italiano, espanhol e francês. Tinha excelente senso de humor e era capaz de verbalizar tiradas sensacionais relacionadas à política, futebol e assuntos diversos.
http://br.123rf.com/photo_21068183_mulher-%C3%A9-varrer-folhas-no-gramado-em-seu-quintal.html
Também era uma referência positiva em relação ao desempenho de suas funções. Certa feita soltara a seguinte máxima: ‘todos os dias ando de limusine e viajo de avião; minha limusine é o carrinho; e a vassoura é o jatinho’.
E assim Vitória prosseguia cumprindo com prazer salutar sua tarefa diária de manter limpa toda a área do estacionamento utilizado pelos servidores do Ministério. Não se pode afirmar se ela cantava enquanto trabalhava ou se trabalhava enquanto cantava.
Era uma mulher sobremaneira popular, mesmo sendo bastante reservada. Muitos a procuravam para confidências; outros para aconselhamentos; outros ainda para tentar descobrir o segredo de tamanha jovialidade e alegria de viver.
Por esse motivo, tinha livre acesso a todas as áreas e setores. Conhecia segredos do alto escalão de governo, de pessoas de renome internacional, além de compartilhar das alegrias e angústias de seus companheiros que também realizavam serviços gerais. Eram garçons, copeiras, faxineiros. Eram seus amigos. Praticamente sua segunda família.
http://www.myoffice.com.br/pt-br/blog/mulheres-de-neg%C3%B3cios
A vida de Vitória ia seguindo seu curso natural até que ela precisou passar por afastamento do trabalho para tratamento de saúde. Teve de ficar de licença médica durante seis meses. Depois disso ninguém mais a viu varrendo o estacionamento.
Aquela era uma manhã de quarta-feira. Todos estavam reunidos na grande sala, no vigésimo terceiro andar de um renomado centro comercial. Uma mesa em “U” acomodava os participantes recém-chegados. Fazia cinco graus negativos na capital russa.
http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/12-profissoes-em-alta-para-2014-nos-estados-unidos
Veruska ainda não chegara. Sua participação naquela reunião seria determinante.
Poucos minutos depois uma mulher de porte elegante e austero adentrou o recinto.
Ela vestia um tailleur de corte impecável e portava uma maleta marrom de couro de jacaré. Cumprimentou os vinte e cinco membros da comissão russa de acordos internacionais. Retirou seu notebook da maleta e iniciou sua apresentação.
Enquanto falava em idioma russo límpido e cristalino, recordava-se dos solos, ora mais graves, ora mais agudos que estaria realizando no Brasil naquele mesmo horário, caso sua missão como agente de inteligência não tivesse sido concluída. 
Se ainda há mistérios a serem desvendados no universo, há muitos outros que ainda estão escondidos  na essência da alma feminina.

By M@riBlue.

Eis que surge uma ideia!

Sim! 
Uma ideia reluzente, brilhante, instigante e luminosa...
Uma ideia quase como o sol, quente, vibrante, radiante...
Uma ideia muito, muito simples. 
Nem sei como não pensei isso antes...
Fonte da imagem: http://aumagic.blogspot.com.br/2011/11/contrucao-da-identidade-moral.html

Bem, a ideia é a seguinte: desde que o mundo é mundo ouvimos histórias.
Estamos cercados de histórias por todos os lados, elas entram em nós por todos os poros.
Há estórias e histórias.
As que vou contar aqui são histórias. 
Uma vez que a primeira é um neologismo à brasileira  e a segunda dá conta de minha atual necessidade.
Decidi - depois de muito escutar - contar relatos de fatos, fragmentos de vida, recortes do cotidiano de algumas mulheres que conheci, ou que convivi, ou que inventei.
Histórias completamente factíveis, possíveis e possivelmente quase surreais.

Fonte da imagem: http://www.medea-awards.com/showcase/bla-bla-bla-e-democracy-e-minori

Essas histórias de Marias, Adelaides, Cecílias, Antônias, Josefinas, Alices, Carmens, Camilas, Augustas, Ilmas, Maristelas, Luanas, Eclesinas e Jocélias, serão todas nomeadas com um título iniciado pela letra M - 'M' de  Mulher, 'M' de Confraria MM's.
E a primeira dessas história você terá a seguir, com exclusividade. 
Deleite-se.
Depois me conte se algo parecido já aconteceu com você.

Um abraço!

By M@riBlue