sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mistério


Já dizia o poeta que há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Quantos de nós já tentou responder a questionamentos essenciais tais como ‘quem sou eu?’ ou ‘Deus existe?’, quantos já nos deparamos com situações com as quais jamais sonháramos?
A mulher é um ser cheio de perguntas. E também pleno de respostas. Ela exercita a capacidade de questionar, arguir e opinar.
 E o faz todo o tempo, todos os dias, repetida e frequentemente. Por esse motivo, a mulher é a maior e mais abundante fonte de mistérios que pode existir sobre a face da terra.
Seu nome era Vitória.
Ela trabalhava em uma firma terceirizada prestadora de serviços para o Ministério das Relações Exteriores, localizado no centro do Poder em Brasília. Seus instrumentos de trabalho: um carrinho de lixo, uma vassoura e uma pá.
Era possível ouvi-la todas as manhãs no estacionamento dos Anexos. Solava em tons agudos e graves, alternando entre ambos, mas sempre muito afinada.
Era uma pessoa muito simplória, mas bastante articulada. Sua aparência transmitia seguramente a imagem de uma pessoa de origem humilde, de certa forma despreocupada em relação à aparência, talvez por não ter muito tempo para tais cuidados.
Vitória era, entretanto, uma sumidade em conhecimentos relacionados à música. Além disso, falava com certa fluência em inglês, italiano, espanhol e francês. Tinha excelente senso de humor e era capaz de verbalizar tiradas sensacionais relacionadas à política, futebol e assuntos diversos.
http://br.123rf.com/photo_21068183_mulher-%C3%A9-varrer-folhas-no-gramado-em-seu-quintal.html
Também era uma referência positiva em relação ao desempenho de suas funções. Certa feita soltara a seguinte máxima: ‘todos os dias ando de limusine e viajo de avião; minha limusine é o carrinho; e a vassoura é o jatinho’.
E assim Vitória prosseguia cumprindo com prazer salutar sua tarefa diária de manter limpa toda a área do estacionamento utilizado pelos servidores do Ministério. Não se pode afirmar se ela cantava enquanto trabalhava ou se trabalhava enquanto cantava.
Era uma mulher sobremaneira popular, mesmo sendo bastante reservada. Muitos a procuravam para confidências; outros para aconselhamentos; outros ainda para tentar descobrir o segredo de tamanha jovialidade e alegria de viver.
Por esse motivo, tinha livre acesso a todas as áreas e setores. Conhecia segredos do alto escalão de governo, de pessoas de renome internacional, além de compartilhar das alegrias e angústias de seus companheiros que também realizavam serviços gerais. Eram garçons, copeiras, faxineiros. Eram seus amigos. Praticamente sua segunda família.
http://www.myoffice.com.br/pt-br/blog/mulheres-de-neg%C3%B3cios
A vida de Vitória ia seguindo seu curso natural até que ela precisou passar por afastamento do trabalho para tratamento de saúde. Teve de ficar de licença médica durante seis meses. Depois disso ninguém mais a viu varrendo o estacionamento.
Aquela era uma manhã de quarta-feira. Todos estavam reunidos na grande sala, no vigésimo terceiro andar de um renomado centro comercial. Uma mesa em “U” acomodava os participantes recém-chegados. Fazia cinco graus negativos na capital russa.
http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/12-profissoes-em-alta-para-2014-nos-estados-unidos
Veruska ainda não chegara. Sua participação naquela reunião seria determinante.
Poucos minutos depois uma mulher de porte elegante e austero adentrou o recinto.
Ela vestia um tailleur de corte impecável e portava uma maleta marrom de couro de jacaré. Cumprimentou os vinte e cinco membros da comissão russa de acordos internacionais. Retirou seu notebook da maleta e iniciou sua apresentação.
Enquanto falava em idioma russo límpido e cristalino, recordava-se dos solos, ora mais graves, ora mais agudos que estaria realizando no Brasil naquele mesmo horário, caso sua missão como agente de inteligência não tivesse sido concluída. 
Se ainda há mistérios a serem desvendados no universo, há muitos outros que ainda estão escondidos  na essência da alma feminina.

By M@riBlue.

Eis que surge uma ideia!

Sim! 
Uma ideia reluzente, brilhante, instigante e luminosa...
Uma ideia quase como o sol, quente, vibrante, radiante...
Uma ideia muito, muito simples. 
Nem sei como não pensei isso antes...
Fonte da imagem: http://aumagic.blogspot.com.br/2011/11/contrucao-da-identidade-moral.html

Bem, a ideia é a seguinte: desde que o mundo é mundo ouvimos histórias.
Estamos cercados de histórias por todos os lados, elas entram em nós por todos os poros.
Há estórias e histórias.
As que vou contar aqui são histórias. 
Uma vez que a primeira é um neologismo à brasileira  e a segunda dá conta de minha atual necessidade.
Decidi - depois de muito escutar - contar relatos de fatos, fragmentos de vida, recortes do cotidiano de algumas mulheres que conheci, ou que convivi, ou que inventei.
Histórias completamente factíveis, possíveis e possivelmente quase surreais.

Fonte da imagem: http://www.medea-awards.com/showcase/bla-bla-bla-e-democracy-e-minori

Essas histórias de Marias, Adelaides, Cecílias, Antônias, Josefinas, Alices, Carmens, Camilas, Augustas, Ilmas, Maristelas, Luanas, Eclesinas e Jocélias, serão todas nomeadas com um título iniciado pela letra M - 'M' de  Mulher, 'M' de Confraria MM's.
E a primeira dessas história você terá a seguir, com exclusividade. 
Deleite-se.
Depois me conte se algo parecido já aconteceu com você.

Um abraço!

By M@riBlue


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Simples assim

Créditos da imagem: MJG
Ela queria escrever sem ter um tema. 
Queria viver sem seguir um roteiro. 
Queria sonhar sem ter um despertar. 
Ela queria que o seu mundo real fosse substituído pelo mundo ideal. Ela queria ter seus amigos de volta: os que foram levados pelo tempo, pela distância ou pelas adversidades e os que foram levados por ambos. 
Ela queria tecer uma colcha com os retalhos de seus melhores momentos. 
Queria escrever um livro com os mais belos trechos de livros que já tinha lido. 
Também queria montar um álbum apenas com imagens que lhe tivessem tirado o fôlego. Ela queria pisar folhas secas com os pés descalços. Queria abraçar uma árvore centenária. Ela queria o cheiro de café fresco. Queria o céu azul numa manhã de primavera. Queria a cor intensa do ipê amarelo florido em contraposição à seca severa e árida. 
Ela queria os pingos das primeiras chuvas após o inverno. Ela queria viver uma história de amor com um roteiro cinematográfico. Ela queria o encantamento singular da criança no momento de uma descoberta. Ela queria molhar os pés nas águas de um riacho. 
Queria o vento no rosto na viagem de carro de volta para casa. Ela queria caminhar a esmo. Dirigir sem rumo. Ela queria contemplar o pôr-do-sol. Ver a noite cair. Esperar acordada o dia amanhecer. Ela queria o gosto do primeiro beijo. Queria o gozo da primeira noite de amor. Ela queria o brilho cúmplice no olhar do amado. 
Ela queria um dia para fazer nada. Queria um tempo para dedicar ao ócio. Ela queria tocar o horizonte e alcançar o infinito. Ela queria bordar palavras de ternura nas tramas das nuvens. Queria degustar um pote de balas coloridas. Ela queria uma xícara de chá quentinho numa tarde fria. Ela queria viver de amor e sobreviver de gentilezas. Ela queria um mundo diferente com as mesmas pessoas. Ela queria ter um sem número de possibilidades. 
Queria fazer sempre a melhor escolha. Ela queria acertar o alvo. Ela queria tentar a sorte grande. Encontrar a felicidade. Descobrir o sentido da vida. Ela queria gargalhadas sonoras e alegrias múltiplas. Ela queria uma noite de lua e céu estrelado. Ela queria um pouco mais de vida entrando por seus poros.
E ela teve tudo isso exatamente quando abriu os olhos da alma para enxergar a singeleza das milhares de maravilhas que ocorriam cotidianamente à sua volta, repetidamente, regularmente e bem debaixo de seu nariz.

Simples assim! 

;)

By MariBlue

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Dez passos - certeiros - para ter um infarto


Passo 1 - Vá ao clínico geral para o check up.
Sim. Você não leu nada errado. Esse é o primeiro passo. Você vai ao clínico e ele te pede uma série de exames entre os quais um eletrocardiograma. Então é só você se virar nos 30 para fazer todos os exames antes dos 15 dias para o retorno médico.

“Oi, tum, tum, bate coração
Oi, tum, coração pode bater
Oi, tum, tum, tum, bate coração
Que eu morro de amor com muito prazer.”

Passo 2 - Procure fazer todos os exames na mesma clínica.
Essa é uma opção óbvia na verdade. Comodidade, praticidade, rapidez e eficiência... Ao menos é o que se espera...

“Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer.”

Passo 3 – Se esforce para viver emoções bem fortes.
Isso mesmo! Faça algo que nunca fez antes. Brigue com alguém. Comece um relacionamento. Ou termine um. Exceda os limites de velocidade. Exceda os próprios limites. Trabalhe excessivamente. Exaustivamente. Acumule sono. Acumule trabalho e responsabilidades. Tome decisões por impulso. Ou então faça rapel pela 1ª vez (esse último, por si só, pode ser um bom motivo para infartar).

“Meu coração tá batendo
Como quem diz:
"Não tem jeito!"
Zabumba bumba esquisito
Batendo dentro do peito.”

Passo 4 - Vá para o exame cardiológico com todas essas emoções pulsando no seu peito.
Certamente essa salada de emoções irá provocar algum tipo de alteração no seu eletrocardiograma. Junte a isso outros ingredientes determinantes entre os quais um pouco mais de emoção e adrenalina com longas filas de espera, mal-entendidos, remanejamentos e ausências no trabalho. Sem falar na correria para chegar a uma consulta que foi desmarcada, mas você foi a última pessoa a saber.
“Agora aguenta coração
Você não tem mais salvação
Você apronta
Esquece que você sou eu.”

Passo 5 - Pegue o resultado do seu ECG no mesmo dia do retorno ao clínico geral.
Esse passo é um item importante, afinal, caso o resultado do exame seja algo muito esdrúxulo, o seu médico poderá lhe ajudar na hora de decifrar o laudo do cardiologista (no caso em questão – o meu – o resultado foi de fato muito esdrúxulo). Lembre-se que você não terá nem a chance de consultar o oráculo (salve google!) por que antes de você conseguir fazer isso chegará a sua vez de ser atendido.
“Coração,
Para que se apaixonou
Por alguém
Que nunca te amou
Alguém que nunca
Vai te amar...?!

Passo 6 - Deixe o (esdrúxulo) resultado do seu ECG por último na pasta de exames.
Melhor começar com a parte boa, deixando aqueles termos escatológicos, quer dizer, do jargão médico, para serem decifrados por aquele em quem você confia, aquele em quem você deposita todo crédito e de quem você só espera ouvir palavras boas e doces e amenas.

“No tic tic tac
Do meu coração
Renascerá
No tic tic tac
Do meu coração
Renascerá.”

Passo 7 - Ouça do seu médico que o laudo do cardiologista afirma categoricamente que você teve um infarto!
Claro que você jamais imaginou ouvir isso do seu médico, do seu cuidador, daquele que acabou de verificar seu índices normalíssimos de glicose, hematócritos, plaquetas, uréia, cálcio, potássio, vitamina D, colesterol, etc, etc, etc. Como aceitar um laudo tão improvável?!

“Meu coração está radiante,
Bate feliz acho que é o amor,Quando te vejo chego a sonhar.”

Passo 8 – Retorne à clínica na qual fez o bendito exame cardiológico.
Sim, imediatamente! Volte lá, arme um escândalo, faça um barraco, invada o consultório médico, puxe o Doutor que fez o laudo errado pelo colarinho do jaleco e grite com ele para que ele corrija o erro que cometeu.

“Coração, coração, coração
Vê se toma jeito, coração
Coração, coração,
deixa de ser trouxa, coração.”

Passo 8 (revisado, a pedido do segurança da clínica) – Retorne à clínica na qual fez o ECG.
Explique para a atendente o ocorrido. Peça para falar com o dono da clínica que certamente não estará no local. Siga, portanto, o procedimento padrão: faça a ficha, espere uma eternidade e refaça o exame. A essa altura você já adquiriu uma série de fobias e sente até medo de morrer.

“Eu vou dizer o que tenho no coração
Vou traduzir o que eu sinto por essa canção
Vou dizer o que tenho no coração
Não sei falar de amor
Mas vou dar voz à emoção.”

Passo 9 – Viaje 32 km para uma consulta em outro cardiologista e tenha a consulta desmarcada outra vez.
Ah, e também perca a consulta com o cardiologista do plantão no seu trabalho. Se torne a reencarnação do Aírton Sena saindo do Plano Piloto às 16h para uma consulta às 17h. Detalhe: no Gama. Abra bem os ouvidos e o coração para o momento em que a atendente da clínica lhe disser: 'nós tentamos lhe avisar antes, senhora'. Assim mesmo, pois se o coração não tiver bem aberto, o segurança agirá novamente.

“Olha, cê me faz tão bem
Só de olhar teus olhos, baby, eu fico zen
Coração acelerado a mais de cem
Juro que eu não quero mais ninguém
Você me faz tão bem.

E, finalmente,

Passo 10 – Faça o exame certo, no lugar certo.
Opte por fazer ‘o exame’. Aquele que não deixará dúvidas. O que fará seu coraçãozinho bater suavemente, quero dizer acelerado, affff!, quero dizer normalmente. Faça esse exame e escute a especialista dizer assim: ‘Um coração bom desses, humpf! Quem foi que fez essa barbeiragem, hein’?

“Coração apaixonado
Só diz coisas que parecem tão banais
Sempre certo, mesmo errado
É o fogo que não morrerá jamais.”

Nota: Olha, serei bem sincera com vocês, diletos leitores: se ninguém infartou vivenciando toda essa via-crucis, só posso afirmar que vocês têm um coração de ferro! ;)

 
Fonte da imagem: http://www.fempi.com.br/geral/?p=1691

By M@riblue.


Nota: O Vocabulário da Língua Portuguesa - Volp - prevê como corretas as duas grafias 'infartar' e 'enfartar'. 

(Vide link: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

De Sansão e Dalila e da força que vem dos cabelos: A saga.

Crepúsculo
Ela saiu animada do trabalho no fim daquela tarde. Ia finalmente ter um encontro com o seu cabeleireiro. Agendara o seu horário com quase dois meses de antecedência. Após extenuantes pesquisas de looks de famosas e da observação atenta de madeixas de mulheres comuns que circulavam nos mesmos ambientes que ela, até a coleção de fotos ilustrativas que levaria no grande dia. Era finalzinho de uma tarde de inverno, o céu sem nuvens deixava entrever que o crepúsculo já se anunciava. Deixou a sala com o pensamento de que iria recuperar a sua força e energia vitais, bem ao contrário do que acontecera com Sansão, o Fortão. No caso dele que enfraquecia sem as madeixas abundantes; para ela, cortá-las eram estímulo e renovação. Assim, confiante e destemida, foi ao encontro do seu ‘hair stylist’, hashtag: #partiuforçacapilar!
Fonte: http://www.cygnuscosmeticos.com.br/cabelos/tudo-sobre-hidratacao-capilar

Lua Nova
Bem sabemos que para as mulheres cortar os cabelos não poderá jamais ser considerado um ato corriqueiro e banal, mas um evento, uma transição, um quase ritual de passagem, do qual e para o qual toda energia, expectativa e atenção são destinadas e extraídas durante longo tempo. Mudar os cabelos pode implicar em rompimentos com padrões de comportamento e até de relacionamentos, pode representar um ato revolucionário, desafiador e de coragem extrema. Mexa com os cabelos de uma mulher e descubra quantas feras podem surgir mágica e repentinamente à sua frente. Mas, antes de decidir é muito importante saber qual é a configuração dela. Da lua. Era exatamente a transição da lua cheia para a lua minguante, rumo à promissora lua nova. Saibam que a lua tem peso determinante na hora de permitir passar a tesoura nos fios. Tudo a ver com as cheias dos rios e o movimento das marés. Afinal de contas, uma mulher não é apenas uma mulher, meus caros, é um complexo exemplar que congrega em si todas as manifestações da natureza. A lua, portanto não era nova. Mas caminhava para nova. E ela finalmente chegara ao cabeleireiro. 
Fonte: Fonte:http://www.iplay.com.br/Imagens/Divertidas/07Dx/Fases_Da_Lua_Sobre_Montanhas
Eclipse
Tudo ia muito bem até o momento em que o seu preferido, o eleito, o único que poderia manejar os preciosos fios de sua cabeça diz a seguinte frase: senta aqui que ELA vai te atender. ‘Como assim’? ‘Quem é essa’? ‘Quem vai mexer nos meus cabelos’? ‘Você está louco’? Tudo isso expresso apenas em pensamento nas primeiras frações de frações de segundos. A fala mesmo é a seguinte: ‘sento aqui’? E ela se senta desconfiada e estranhamente incomodada. Então resolve dar um crédito para a moça, outra integrante do staff de cabeleireiros do salão. Senta-se e entrega-se de cabeça (aqui no sentido literal da coisa). O processo é o usual, divide-se o cabelo em mechas, úmidos e limpos, e tendo-se o corte definido, começar com tesouradas suaves e depois vigorosas, alternando a intensidade e a velocidade a fim de transformar uma mulher comum em uma ‘super-hiper-ultra-mega-high’ mulher. Outra parte dessa transformação é a tintura (quer dizer, tinturas, descolorações, mechas, permanentes, progressivas, relaxamentos, hidratações, e etc, etc, etc).  A tintura era o próximo passo da sessão.  A cor previamente definida: mel. Fotos ilustrativas à mão e o espelho à frente. Mãos à obra. Novas mechas, divisões nos cabelos, papelotes de alumínio, calor, touca, espera. Incontáveis minutos de espera. Essa parte do processo é o que poderia ser denominado eclipse: é uma conjunção de cores e a busca por uma perfeita harmonização de tons, cujo resultado dever ser algo inesperadamente belo, surpreendente e jamais visto por olhos humanos. Bem, isso na teoria... Na prática a coisa não acontece exatamente assim. Ela sabia que de tempos em tempos alguém deveria vir conferir se as cores, os tons, enfim, se tudo estava ok, etc. Mas não. A aspirante a pretendente e aprendiz de cabeleireiro sequer deu uma ajustadinha na touca. Resultado: um horror! 
Fonte: http://www.checklisttur.com.br/citytour.php


Um verdadeiro e horroroso espetáculo de mau gosto: ‘total eclipse on the hearth’! Os preciosos fios assumiram coloração alaranjada, dourada, amarelada e algumas nuances de marrons, mas nem de longe atingiram o tom cor de mel tão esperado, desejado, ansiado. Socorro! Ela quis gritar, em puro e justificado desespero. Mas disse: ‘o meu cabelo tá muito claro’! ‘Tá estranho’(...) ‘Tá laranja’! ‘Vai ficar assim, horroroso’??? E a resposta: 'Calma, vai dar tudo certo'. Depois do eclipse tudo voltará ao normal. Era noite. Ela aproveitou-se das sombras coniventes e seguiu anônima para a sua casa. A ideia era ir se deitar e dormir. Apagar e esquecer aquele pesadelo maluco. Não sem antes ouvir da filha: ‘seu cabelo ficou horrível mamãe’! e do marido: ‘nossa, ficou loira’?. Afffffffffff, melhor ir dormir logo pra acabar com essa tortura!

Amanhecer
O dia entrando pela janela e o vento brincando com as cortinas. Ela se move ainda sonolenta, se espreguiça. Abre os olhos bem devagar. Respira fundo e, ganhando consciência dos fatos, pensa: ‘foi um pesadelo, foi um pesadelo’! Suspira. Devagarinho se levanta e caminha na ponta dos pés. Vai em direção ao espelho. Tudo o que ela deseja é que tudo aquilo não seja real. Tira as mãos dos olhos e... ‘Aaaaaarrrrrghhhhhhhhhhhh’! ‘que horror’! ‘pareço um mico leão dourado’! ‘Socooorroooooo’! E pensa desolada que vai ter de levar a filha à escola, ir para a academia, fazer compras no supermercado. Como conseguirá isso com aquele cabelo???? Céus!!! Definitivamente quis encontrar uma touca de natação e finalmente sair de casa livre dos olhares maldosos e risonhos. Livre?! Mas deu-se por vencida, saiu assim mesmo. Convicta, entretanto de que na primeira farmácia estaria a solução para os seus problemas. Aquela tintura nova, novíssima, daquela marca que não agride os fios e na cor chocolate alegre, quente, sei lá; acho que claro, isso: chocolate claro!
Fonte:
http://www.bolsademulher.com/cabelos/cabelos-curtos-e-cacheados-seis-opcoes-de-corte/
Ao levar a filha à escola, com seu maior óculos de sol e enrolada até as orelhas em um cachecol diz: ‘hoje mamãe não vai descer, hoje você vai sozinha filhinha’... Espera a menina entrar na escola e sai, alucinada, para a farmácia. Nem quer saber mais de academia. Já em casa e mais próxima da solução, reinicia o processo. Divide o cabelo em mechas, mistura a tintura, prepara tudo. O suplício de ter aquele cabelo estranho e esquisito chegará ao fim. Ao final de tudo o resultado: uma tiara dourada insiste em marcar o contorno da cabeça. Ah, se arrependimento matasse! ‘Nunca mais’ – ela jura a si mesma – ‘nunca mais aquela mulher irá tocar em um único fio de cabelo meu’! Decidida volta à farmácia, sai de lá com nova tintura, dessa vez henna escura – as mulheres entenderão – então dá início a mais uma etapa na busca do cabelo perfeito. Findo todo o trabalho o resultado: algo próximo de uma cor uniforme. Sem abrir os cabelos, claro! Mas no geral, naquela olhada assim por cima, tinha ficado bom. Ao menos não precisaria mais dos óculos que escondiam o rosto e nem do cachecol debaixo daquele sol do saara que ardia lá fora.

Desfecho
Uma saga é uma saga. E uma saga como a descrita acima não é para qualquer mulher. É somente para aquelas que têm a força e a energia revigoradas quando cortam os cabelos. Ou quando querem mudar o mundo à sua volta quando mudam o estilo de suas madeixas. Né?


By M@ribLue

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Dessas histórias que nos fazem acreditar em anjos, nas pessoas e no amor...

Hoje por conta de um atendimento desci mais cedo para almoçar. Restaurante vazio, poucas pessoas, silêncio e calmaria no ar. Sentei-me com uma conhecida de outro setor. Aos poucos outras pessoas chegavam para a refeição. Confesso que tinha um pouco de pressa, mas para minha sorte, não me rendi aos apelos cronológicos. Pude, felizmente, ouvir uma belíssima história.
Em tempos em que os ouvidos da humanidade andam saturados de tanta notícia ruim o relato que segue soa como bálsamo renovador da fé na pessoa humana. E no verdadeiro amor.
Cena do Filme Meu Primeiro Amor.
In: http://portaldecinema.com.br/news/2013/08/27/12-filmes-sobre-primeiro-amor-para-assistir-e-se-apaixonar/

Ela, uma mulher com seus quarenta e uns,  talvez, espiritualidade hiperdesenvolvida e uma doença. Câncer. Travando a luta quimioterápica no afã de combater as células que multiplicavam-se desordenadas nas profundezas de seu corpo biológico. Luta essa que incluía viagens solitárias a São Paulo, de ônibus, devido ao alto custo do tratamento e às parcas economias reunidas para essa finalidade. 
Ele, um homem com seus setenta e muitos, talvez, solidão e solitude amplificadas pela viuvez e missão paterna já cumprida, usufruindo da rica aposentadoria de desembargador, mas sem ter com quem compartir sequer um pequeno prazer cotidiano.
Quis o destino - assim é mais poético descrever - que essas duas almas se encontrassem um dia e fossem ambas tocadas  pelos singelos dedos de Deus. Sim! Uma união desse porte somente mãos divinais poderiam promover.

Fonte da Imagem:
http://www.mariatirone.com/2012/08/miedo-al-amor-osho.html
Encontraram-se os dois em meio às buscas espirituais que faziam. Identificaram-se. Irmanaram-se. E amaram-se. Ele, pleno de amor transbordante, amou-a e era todo cuidados com ela. Ela, mesmo fragilizada e doente, permitiu-se ser amada. E deixando-se amar, assim amou também. Preencheu o espaço outrora ocupado pela solidão e tornou a vida de alguém algo significativamente útil.
Há rumores de que ela, cercada de todos os cuidados possíveis, quando saía do banho tinha já a roupa posta sobre a cama, a bolsa, o sapato, a toalha imediatamente à mão. Também se diz que nos dias em que ela conseguia trabalhar, o amado a esperava na Biblioteca, lendo o jornal. Viajavam juntos a São Paulo para o tratamento. E à Europa para a diversão.
Será que os dois perceberam que amando um ao outro daquela forma e naquele contexto tornavam real e verdadeiro um dos conceitos de amor que é via de mão dupla, em que o amor que vai sempre retorna, quando é dado por inteiro, sem expectativas, sem esperas, sem aguardar retribuição?
Espero sinceramente que sim.
Pois essas duas almas tiveram a chance de experimentar algo singular e mágico em suas vidas.
Essas almas receberam dos céus uma benção!
Ela teve de passar por uma doença grave para ter a chance de experimentar a rica experiência do amor. Ele teve de passar pela solidão para ter a chance de experimentar a rica experiência da doação.
Cena do Filme Ensina-me a Viver.
In: http://portaldecinema.com.br/news/2013/08/27/12-filmes-sobre-primeiro-amor-para-assistir-e-se-apaixonar/
Um sentimento muito intenso de comoção e de esperança inundou meu coração quando ouvi essa linda história. 
Pensei em quantos de nós teremos a chance de vivenciar algo similar. Em quantos de nós acreditaria que esse tipo de sentimento existe. Em como nos comportaríamos se fôssemos nós os protagonistas dessa história.
Não sei se algo assim acontece por que merecemos, ou se por que precisamos, mas de uma coisa tenho certeza: desejo do fundo do meu coração ter a capacidade de perceber, mesmo em meio a tanta poluição e ruídos, quando um amor real, genuíno e verdadeiro estiver por me visitar!

By  MariBlue.